sexta-feira, 13 de abril de 2012

Uma crença... Uma Vida!


A Verdade e a Parábola

A Verdade visitava os homens; sem roupas e sem adornos, tão nua quanto o seu nome.

E todos os que a viam viravam-lhe as costas de vergonha ou de medo e ninguém lhe dava as boas vindas.

Assim a Verdade percorria os confins da Terra, rejeitada e desprezada.

Numa tarde, muito desolada e triste, encontrou a Parábola que passeava alegremente, num traje belo e muito colorido.

-Verdade, porque estás tão abatida? - perguntou a Parábola.

-Porque devo ser muito feia já que os homens me evitam tanto!

-Que disparate - riu a Parábola - não é por isso que os homens te evitam. Toma, veste algumas das minhas roupas e vê o que acontece.

Então a Verdade pôs algumas das lindas vestes da Parábola e, de repente, por toda a parte onde passava era bem vinda.

Então a Parábola falou:

- A verdade é que os homens não gostam de encarar a Verdade nua; eles a preferem disfarçada!

Há muitos anos atrás, quando li essa metáfora, acreditei ter entendido o que acontecia comigo. Trabalhava com comportamento humano e quando me vinha de forma clara o que aquela pessoa em questão estava precisando ouvir, eu dizia e quando eu dizia, algumas se justificavam, outras não aceitavam, algumas confirmavam e nada faziam, outras faziam mudanças positivas e outras nunca mais voltavam.

Eu dizia a verdade de forma nua, sem adereços. Pude através da metáfora e da experiência com as pessoas, perceber que cada pessoa tem um tempo de amadurecimento, e nem sempre estão prontas para a verdade.

Acreditei que não poderia mais dizer com a energia que eu dizia, com a clareza com que me vinha, e passei a me policiar, ter a cada dia mais zelo com as palavras. Passei anos da minha vida preparando pessoas para um dia estarem prontas a ouvir. Nunca consegui. 

Um dia “me percebi”, como profissional e essa percepção foi cruel. Eu estava fazendo o “jogo” do outro. Estava poupando as pessoas na esperança delas amadurecerem. Aprendi que quanto maior a expectativa, maior a frustração.

Continuei trabalhando com palestras, com temas superficiais e com o passar do tempo, me percebi morta por dentro.

Dei um tempo para refletir sobre minha trajetória de vida, sobre minha saúde mental, sobre meu futuro. 

Nesse período tive perdas grandes e uma grande perda. Nada mais me alegrava, nada mais me impulsionava. 

Foi numa viajem que me reencontrei. Me resgatei! Estar só com você mesma, traz benefícios inimagináveis. Foi como um sopro na brasa. 

O problema não estava comigo e percebi o quanto uma crença pode nos destruir. 

As interações, as trocas de experiência, os estudos, as leituras, são importantes, mas desde que não entrem na sua identidade. Jamais podemos negar ou destruir ou obstruir o que é nosso por excelência.

Hoje percebo claramente que não importa o que eu diga ou como eu diga, o importante é deixar saída para o outro, pois será raro encontrar alguém amadurecido, pronto a deixar sua concha, suas teorias, suas crenças, sua limitação.

Não existe uma verdade, mesmo que para mim seja óbvio, claro, explícito. Existem várias verdades. E quando eu dou opções de verdades, me colocando em várias posições, tendo uma visão mais ampla, e assim o outro poderá se identificar sem ser desrespeitado. Não preciso vestir a verdade, nem devo, pois seria julgar, como saberei que roupa colocar e qual verdade vestir?

Aprendi a compreender os fatos e acontecimentos não só com a minha verdade, a minha visão limitada do mundo, mas com a visão do outro e do outro e do outro. O exercício de buscar saber como eu reajiria se fosse o outro e as pesquisas de como reagem pessoas de idades, classe sociais, culturas e ambientes diferentes, eu consigo dar uma espectro maior de verdades e com isso posso utilizar a energia que me é nata, a clareza e objetividade do meu ser. 

Posso ser útil. Aprendi. Renasci. 

Joséphine Berloquin

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